Sobre a Vida
- 15 de set. de 2020
- 3 min de leitura
Em um lugar muito, muito distante, havia uma pequena lagoa. Seu tamanho era desproporcional à sua importância. Ao longe, vinha caminhando bem lentamente um senhor, cuja barba arrastava sobre o chão e era impossível ver sua ponta. Tal senhor se aproximou da lagoa, sentou-se em um toco de madeira e ali se manteve fitando a água.
Não é possível dizer que tipo de chão existia: se era terra, se era também água, se eram nuvens ou pedras. Tudo o que se via e podia ver era um chão aparentemente sem consistência, mas onde pisavam o senhor, apoiavam-se o tronco e a lagoa.
O senhor levantou a cabeça, olhou e disse:
- Seja bem-vindo. Que comecemos.
- De um lugar não muito distante, onde os momentos são como diamante, asseguro-te que maldade não há. No entanto, como posso ter a certeza de que para lá te levando, maldade não pode ir contigo caminhando?
- Nesse mesmo lugar, existem pessoas, de vários tipos, assim como no seu lugar. Todas se conectam, se reconhecem e se admiram, pois encontram dentro de si uma espécie de santo, que sempre morou ali.
- Para seu conhecimento, em todo o firmamento, existem inúmeras coisas que não consigo sequer inferir. Como poderei em palavras reduzir, algo que a própria mente se julgasse compreender seria uma pobre inocente?
- Mas deve perguntar: como provar e ir pra esse lugar?
- A resposta é simples e clara, já estás a provar e a prova é longa e amarga.
- Amarga não para mim, mas devo acostumar com o que você considera amargo, já que seja uma imagem de jasmim ou qualquer decepção, passam ambos por mim como se fossem uma ilusão.
- Sabes como protegemos toda uma nação? Basta dar a cada um a mesma condição. Pensas que falo sobre alguma igualdade? Falo em verdade de uma capacidade.
- Muitas vidas e situações, cada um viveu, a cada grupo de estações, alguém floresceu. Floresceram em todos os lugares, seja no que considera rico ou digno de resgatares. Há algo de muito puro que desapercebeu, está atrás de um muro que julga ser limite seu.
Nesse momento, o senhor, que falava em sua solidão para ninguém, mas que se sentia ouvido por todos, puxou sua barba, que rapidamente se encolheu até que ficasse de um tamanho cobrindo apenas seu pescoço. Fez um movimento com as mãos sobre a lagoa e continuou a falar.

- Estão presos por uma ilusão, imersos em tudo o que construiu seu próprio irmão. Não vedes absolutamente nada, exceto aquilo que toca sua enxada. Pensa que a vida é apenas isso: trabalho, trabalho, assumir seu compromisso.
- Oh, mas que tolo, como pôde pensar isso? Trabalho é humano, assim como compromisso. O Universo é para ti profano, assim rejeitas isso. A eternidade de assusta, mas lê e veste a carapuça, porque dentro de ti habita um santo, que grita, ruge por um pranto.
- Ah, mas lágrimas por tudo o que existe? Não, lágrimas cujas águas limparão de vez esse riste, mostrarão que é apenas um pequeno suporte, de uma grande lança que desconhece o real porte.
- Ouça, por isso, viver é mais que compromisso. Existe uma chave que precisa mais que isso, uma pequena peça que quer ser ouvida, que clama, grita, para expressar-se nessa vida.
- Enquanto estás aí, preocupado com o que há de em breve morrer, te digo que teu santo tem muito mais idade a suceder. Mas fique tranquilo, não envergonhas a mim, mas a ti mesmo a cada vez que resgata seu próprio fim e apercebe-te de que não levou nenhum só jasmim.
Comments