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O abismo da busca por estar certo

  • 17 de set. de 2020
  • 3 min de leitura

Muitas vezes ingressamos buscas para estar certos, para ter a razão e dominar o discurso. Ignoramos a opinião do outro ou simplesmente gostaríamos de ver a nossa imposta. Isso pode acontecer de diversas formas, inclusive em momentos nos quais “temos certeza de que estamos certos”. Será mesmo?

Sempre, para afirmar algo, levamos em consideração diversos fatores. São muitas composições fáticas que nos levam a fazer afirmações; e se alguma dessas “verdades” for relativa ou tiver mudado?

Um grande problema da ciência hoje – e sempre – é que ignoramos o diferente, não ousamos inovar e nossas produções são quase todas baseadas naquilo que já foi produzido. É por isso que Einstein disse que suas descobertas não foram feitas com lápis e papel, mas idealizadas em uma sala escura para depois tentar comprová-las com lápis e papel.

Quando usamos de ponto de partida o mesmo lugar, é improvável que encontremos algo novo ou diferente do mesmo. Não que seja impossível, é apenas improvável. Por isso esses gênios são tão diferentes, tão excêntricos, eles possuem uma característica muito específica: são ousados.

Essa ousadia não é fruto do saber, pelo contrário, conseguem esquecer que sabem e partir da ignorância para gerar o novo. É claro que o que muda é que o ser que parte da ignorância não é ignorante, por isso as descobertas. Uma coisa é alguém nu, cru, partir do nada e ir pra lugar algum. Outra coisa bem diferente é alguém já experiente, já conhecedor, ignorar os conhecimentos que possui para deixar o novo fluir.

Nesse momento o contato com o novo é feito por um ser já avançado, por isso a produção é mais certeira. Por outro lado, quando entramos em discursos ou buscamos descobertas já cobertos de certezas, entramos em um abismo, um pequeno e fundo poço, cujas paredes são construídas pelas nossas ideias pré-concebidas; e nada de novo entra lá.

Platão nos dizia que nós apenas desejamos aquilo que não temos; tudo o que temos não é desejado. Ora, isso é uma verdade que nesse contexto se encaixa perfeitamente na incapacidade de encontrar algo novo, isso porque “eu já sei”.

Mas não há como sabermos de nada em absoluto. Se existe alguma certeza nessa vida, é a de que nossa consciência é tão, mas tão limitada, que somos incapazes de entender a maioria das coisas. A compreensão e a aceitação da nossa ignorância é uma enorme dificuldade, que, no entanto, em aproximadamente 500 a.C. já foi vivenciada por um homem.

Seu nome, como muitos podem imaginar, era Sócrates. Desnecessário contar a sua história, mas o que precisamos nos lembrar é que esse filósofo foi até o Oráculo de Delfos, sendo que lá fez a célebre pergunta, com a finalidade de encontrar um mestre: “Quem é o mais sábio desse mundo?”.

O Oráculo, como todos devem saber, lhe respondeu: “És tu, Sócrates.”. O mestre de Platão não entendeu a resposta e, dando continuidade ao diálogo, indagou ao Oráculo: “Como posso ser o mais sábio se a única certeza que possuo é que não sei de nada?”. Essa frase foi a deixa para que o Oráculo dissesse que ali estava a razão para a sabedoria de Sócrates.

Percebem que o homem mais sábio era aquele ciente de sua ignorância? Enquanto todos os outros homens estavam cheios de certezas, Sócrates possuía apenas dúvidas e não se deixava levar pelo ego ou orgulho. A maioria, senão todas as teorias do mundo já foram refutadas ou complementadas; até hoje não descobrimos uma verdade universal, até mesmo o vácuo já foi negado.

E, vamos combinar, muita gente já jurou de pés juntos a existência do vácuo, afinal, não há nada ali. Grosseiro erro. Não há nada ali capaz de ser detectado pelos nossos sentidos. Eis o nosso problema, aquela boa e velha vontade egocêntrica de achar que apenas existe aquilo que conhecemos.

A vastidão do universo e de suas possibilidades é enorme. Cada certeza, cada construção absoluta que proclamamos em nossas vidas, é um abismo que cavamos. Enquanto acumulamos certezas, fechamos nosso terceiro olho para a verdade. Ora, porque buscar algo além dos sentidos se já encerramos suas possibilidades? Eis a questão.

Precisamos nos atentar às covas que cavamos para o nosso próprio crescimento!

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1 Comment


Unknown member
Sep 17, 2020

É sempre assim: só valorizamos algo quando perdemos; o novo sempre assusta; os sábios cheios de dúvidas e os ignorantes cheios de razão.

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