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Fidelidade

  • 10 de set. de 2020
  • 2 min de leitura

Com toda a certeza estamos falando de uma virtude, mas há que se tomar cuidado em como ela está se manifestando em nossas vidas. Muitas das vezes acreditamos que estamos manifestando a fidelidade, mas em verdade adquirimos sua versão “falsificada” e chamamos fidelidade.

A fidelidade é uma virtude, como já dito, sendo que, como tal, se inter-relaciona com as demais virtudes. O relacionamento da fidelidade é inclusive mais profundo, haja vista que é possível (e desejável) ser fiel à verdade, à justiça, ao amor, etc. Nossa fidelidade deveria se manifestar como amor incondicional às virtudes, só assim conseguiríamos, de fato, ser fiéis.

Na maioria das vezes somos fiéis a pessoas, a instituições, dentre muitas outras coisas. Tal “fidelidade”, corriqueiramente, nos afasta das virtudes... Como poderia então ser isso a real fidelidade?

Exemplos: quando nosso candidato favorito nos manda odiar outros eleitores; quando nosso líder religioso nos ordena odiar outras religiões; quando tomamos partido de um amigo contra o que sabemos ser certo.

Tudo isso que foi citado nos afasta das virtudes, então como poderia ser uma real fidelidade? Na realidade, me parece, como diria Comte-Sponville, uma má fidelidade. Como cita o mesmo autor, a fidelidade exercida perante Hitler por seus seguidores foi uma fidelidade criminosa. Mas então, pode uma virtude ser criminosa?

Não, não pode, da mesma forma como a água pura não é terreno onde se propaga o fogo, a fidelidade real não é terreno onde se propaga crime algum. Isso acontece conosco porque insistimos em nos fidelizar a bens perecíveis, como corpos materiais, pessoas, empresas, partidos, instituições... Tudo isso em detrimento da virtude.

A maior fidelização precisa ser a virtuosa, em prol da qual lutaremos e esvanecerão todos os laços com qualquer fidelidade inferior que desafie a virtuosa. A fidelidade para virtudes é a única que é, de fato, imperecível.

Vamos a um exemplo prático? Muitas vezes um casal jura ser fiel entre si. Isso dura um tempo, mas será que dura o tempo todo? Quando nossa fidelidade é exclusivamente em prol do outro, quando o outro nos irritar, nos causar algum desconforto, essa fidelidade é fragilizada e aí acontecem traições (seguidas, muitas vezes, de arrependimento, quando se restaura a convivência).

Por outro lado, se a fidelidade da pessoa é com a verdade, com a justiça, com a honra, de forma alguma ela vai trair a outra pessoa. Isso porque trair o outro significa ser injusto, já que na prática está se operando uma enganação à outra pessoa, enganação essa inadmissível para quem se inspira na verdade e na justiça. Quando nossa fidelização está nas virtudes ela não é frágil. Como diria Cristo: é como erguer sua casa sob a pedra.

O mais importante de tudo é que operar bem a fidelidade não faz bem apenas para as pessoas ao nosso redor, mas para nós mesmos. A vida ganha um novo significado, como um todo, um significado muito mais amplo, quando nos tornamos fiéis às virtudes, de forma que sucessivamente vamos cada vez mais nos aproximando delas e isso reverbera em toda a nossa existência.

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