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A Polidez

  • 10 de dez. de 2020
  • 3 min de leitura

Muitos pensam sobre a polidez, se seria uma virtude ou apenas uma espécie de requinte. O dicionário nos revela que ser polido é ter uma atitude gentil, ser cortes, ter civilidade. Ora, claro que a gentileza facilmente é percebida como virtude, mas a polidez muitas vezes nos parece algo engessado.


Para entender o que é a polidez, primeiro é importante falarmos um pouco de respeito e também de expressão. Hoje muito se diz sobre se afirmar no mundo, não abaixar a cabeça, não se submeter a nada. Apesar de concordar (não muito, algum dia discutiremos sobre isso explicando o que é liberdade), enxergo que esse tipo de pessoa, que muitas vezes também se diz ser de “personalidade forte”, acaba sendo a espécime mais individualista que existe e, assim sendo, praticamente impossível de conviver com ela em sociedade.


Digo isso porque sempre, em qualquer tipo de relação, alguém tem que ceder. Talvez seja difícil aceitar isso, mas para que uma relação seja sadia precisamos compreender que é necessário ceder. Acontece que quem decide que jamais cederá, ou vive em conflito o tempo todo, já que a outra pessoa também não vai ceder, ou acaba engolindo a outra pessoa, que resolve sempre ceder.


Dentro dessa perspectiva, podemos, agora, concluir que o outro sempre vai possuir uma certa importância em nossas vidas e que nos expressar a todo o momento, da forma como queremos, acima de tudo e de todos, é uma forma de egoísmo.

Sendo assim, o respeito à figura do outro deve estar sempre presente, sempre. Respeitar o outro não é se omitir, não representa a aniquilação de si, mas um momento em que você “reduz” a sua expressão, respeitosamente, e reconhece a figura do outro. Já ouviu falar em “Namastê” (o Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você)?


A polidez é mais ou menos por esse lado. Uma pessoa polida, respeitosa, que não deixa que sua expressão apague a expressão do outro não está se omitindo, mas respeitando a presença do outro. Como um exemplo, vamos supor que minha avó odeie bermudas e que acredite que usar bermudas é coisa de “marginal”. Não vamos trabalhar questões filosóficas, já que minha avó tem 98 anos (mas na realidade não tem nada contra bermudas rs). Mesmo que eu adore bermudas, não tem razão para eu confrontar uma senhora de 98 anos, mesmo tendo certeza de que uma roupa não me define. Isso é respeito e também um pouco de polidez.


Andre Comte-Sponville diria que a polidez é a primeira das virtudes, quem sabe a origem de todas, mas também a mais fraca. Até porque “um canalha polido não é menos ignóbil que outro”. Ele vai dizer inclusive que o mal pode se ocultar valendo-se da polidez – e que temos que nos atentar a isso.


Eu concordo com Comte-Sponville, mas que outra virtude não poderia ser exercida por pessoas com debilidades? Eu concordo que a polidez é, talvez, uma virtude fácil de se alcançar; mas não é tanto, mesmo os “profissionais”, se é que me entendem, não conseguem disfarçar por muito tempo. Isso porque a polidez real também faz parte da essência – já que vem do respeito.


Enfim, quando buscarmos enxergar o outro, vamos, aos poucos, criando afinidade com ele e percebendo que confrontar para nos impor é um ato de violência. Existem muitas outras formas de mostrar uma opinião diversa. O confronto direto, seja como for, na maioria das vezes, dado o nosso grau evolutivo, vai gerar outro confronto. Ninguém vai pensar sobre si mesmo depois de ser fortemente confrontado – vai se defender. A polidez é o ato de tocar o mundo com sutileza.


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