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A Larva e a Borboleta

  • 4 de ago. de 2020
  • 4 min de leitura

Certa vez uma linda borboleta, forte e colorida, voava pelos campos, quando avistou uma pequena larva. A larva não se mexia, estava parada, e era bem pequena, aparentemente recém-saída do ovo. Curiosa, a linda borboleta se aproximou.


- Ei. Que faz parada? – interrogou a borboleta.

- Olá! Como você é linda! Serei assim tão bela e aguardo, aqui, o meu maravilhoso destino!

- De que fala, pequena larva?

- Já sei de toda a história! Em breve serei uma pupa e, então, me tornarei uma linda borboleta e voarei por todo o céu! Estou aguardando meu magnânimo destino!

A borboleta, percebendo o que ocorria, pousa em frente à larva e logo recomeça a falar.

- De fato a vida lhe reserva um precioso destino, mas é necessário que você se mova e persiga esse destino. Precisa buscar seu alimento e comer bastante para guardar energias.

- Ah, que nada borboleta! Sou uma larva e larvas inevitavelmente virarão borboletas! Não há nada capaz de impedir isso, é a lei da natureza!

- Se engana, pequena larva. Existem muitas leis da natureza e uma delas, em especial, lhe ensinarei e deverás prestar muita atenção. Seu nome é princípio da correspondência. Tudo o que está em cima, é como o que está embaixo, e vice-versa.

- Que queres dizer? Que eu, que não voo, sou como você, que voa?

- De fato somos extremamente semelhantes, mas essa lei deve regular as manifestações naturais em especial, ao menos é do que quero tratar agora. Se para você é um destino se tornar uma borboleta, imagine uma borboleta mãe, da qual virá o seu traje de borboleta, também é dela a obrigação de dar-te esse traje?

- Não compreendo do que falas...

- Ouça... Tens a intenção de repousar e aguardar que “seu destino se cumpra”, descansar e deixar que “o que é seu venha e fique”? Queres, então, oferecer cobre e receber ouro, é isso?

- Mas é meu o destino! Não preciso oferecer nada a ninguém, já o tenho!

- Se engana, pequeno. Assim como julga-se merecedor do destino de se tornar uma borboleta, o arquétipo da borboleta também merece algo. Acha mesmo que da inércia poderá receber prosperidade? Que do descaso vencerá e se erguerá diante de todos?

- Mas... É meu destino, essa coisa está destinada a mim!

- Pobre pequenino. Será que tanta grandeza te merece, nesse desleixe para consigo? Pensas de fato que foste escolhido dentre muitos para vagar na mediocridade e, depois, sentar-se sob um trono de ouro?

- Mas me foi dito pelo... – nesse momento, a borboleta corta a fala da larva.

- Ouça, mas de nada adianta prestar atenção com os ouvidos e raciocinar ao acaso. O que te direi são palavras que só podem ser ouvidas por aqueles que estiverem prontos para escutar, porque nada acontece entre o céu e a terra sem que haja a Ordem. E, pequenino, é muita inocência acreditar que tudo é regido, enquanto nós “fugimos” dos grandes olhos; que sofremos por engano, vivemos situações por engano, estamos pequenos por engano, etc. Por isso escuta, porque tens sim livre arbítrio e é com ele que se aproximará ou se distanciará daquilo que clama tanto lhe ser de direito. Da mesma forma como a sua história pode ser algum dia receber o arquétipo da borboleta, a história do arquétipo da borboleta será servir uma pupa, que por sua vez tem como história servir a uma larva muito bem alimentada. É ilusão achar que as coisas são apenas suas, mas que você não deve se tornar nada para ser das coisas. Imaginar que tudo é seu e que tudo vive em função de você é uma ilusão do ego. Assim como você merece algo, esse algo que você merece também merece uma coisa. É assim que, aqui, se aplica o princípio da correspondência.

- Mas... Borboleta... Eu não entendo do que se trata. Como posso merecer algo que não me mereça? Que loucura! Sois louca!

- Pequenina, não raciocine, pode ser que isso te atrapalhe agora, pois o que dizemos são leis da vida e para compreendê-las o ego não pode falar; ele deve apenas ouvir, porque para o ego, somente ele existe. Para nosso ego, as nossas necessidades devem ser satisfeitas, porque quando precisamos as coisas precisam acontecer, quando falamos a terra precisa se mexer, tudo nos é devido e tudo merecemos, assim como tudo o que nos acontece é culpa dos outros e se passa conosco por engano; tudo armadilhas do ego. Mas nos esquecemos que as coisas também precisam de nós. Como é embaixo também é em cima, e vice-versa. Sem esforço, não há destino. Sem esforço, não há reciprocidade. Para alcançarmos aquilo que desejamos, é necessário reciprocidade. Devemos nos perguntar: será que a borboleta, bela e livre, merece uma larva que não se esforça, uma larva que não se alimenta, que permanece inerte?

Várias lágrimas caíram da larva e ela se sentiu muito mal. Ela havia entendido parte do que a borboleta queria lhe dizer.


- Você me deixou triste – disse a larva. Não mereço essa vida, não mereço nada e nem aquilo que me foi reservado, sou terrivelmente imprestável.

- Deixa disso, pequeno. Porque perdes tempo assim? Se te sente imprestável, move e te torna prestável. Se te sente não condizente com aquilo que diz te pertencer, te move e te torna condizente. Oras, mas para que lamentar tanto? Olho você e vejo uma larva tão boa, linda e capaz quanto qualquer outra, porque não se esforça e se alimenta?


Nesse momento a cena foi se embaralhando, foi se desfazendo e Fotisméni, um pequeno garoto de 12 anos, morador de uma vila em algum lugar do mundo, acordou. O garoto se levantou e foi rumo a outro cômodo da cabana em que vivia, onde três parentes lhe esperavam em festa.


Esse conto continua na próxima terça... 😊





1 Comment


Unknown member
Aug 04, 2020

Faz todo sentido... e muito mais do esperar ela precisa se alimentar e se mover fazendo parte do mundo né? Parabens!

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