A Exuberante Árvore!
- 18 de ago. de 2020
- 5 min de leitura
Certa vez em um lindo campo ao redor de uma cidade conhecida como Jiva, havia uma exuberante árvore, cujas flores eram vermelho vivo. Próximo da árvore, existia uma lagoa formada pela queda de uma cachoeira que, em razão do descampado, de longe se podia vê-la e ouvi-la.

Passeavam pelo campo uma turma de jovens, buscando explorar aquelas belezas naturais ao redor de Jiva. Dentre eles, se destacavam Glória, Vitória, Otávio e Aurélio, que combinaram de se distanciar um pouco do grupo para se aproximarem daquela magnífica cachoeira que viam no horizonte e da maravilhosa árvore que chamava a atenção com o vermelho vivo de suas flores.
Na medida em que foram se aproximando puderam perceber que após a queda havia uma calma e tranquila lagoa, cercada por pedras e cristais das mais variadas cores. Quando foram chegando ainda mais perto, na iminência de descerem o último barranco rumo à lagoa, se depararam com a árvore.
De perto o quarteto se assustou, pois a árvore parecia um pouco podre e estava com sinais estranhos de corrosão. Quando começaram a seguir o caminho rumo à lagoa, ouviram a voz da árvore.
-Não desçam lá. Essa lagoa é maligna, vocês não conseguem ver a cor de suas águas?
Foi então que os quatro repararam... As águas da lagoa tinham uma coloração estranha, avermelhada. Os quatro fitaram a lagoa e de fato suas águas pareciam serem vermelhas.
- Suas águas são formadas pelo sangue das pessoas que já nadaram e morreram lá, melhor não se aproximarem!
Muito assustados com toda essa situação, os quatro se entreolharam e subitamente saíram correndo de volta à sua turma que estava ainda a explorar o descampado e outras espécies que viviam por ali. Não demorou muito até que voltaram para a cidade.
Aurélio, assim que chegou em casa foi logo contando toda a história para seus pais, que se assustaram com o relato do garoto. Pai e mãe se fitaram, até que sua mãe resolveu contradizer o garoto.
- Veja, meu filho... Aquelas águas são puras como não imaginas. Aquelas águas abastecem nossa cidade há anos e são as grandes responsáveis pela ausência de nossas doenças e por grande parte da nossa felicidade. Devemos a existência de nossa cidade àquelas águas, como pode me dizer que suas águas são formadas de sangue? Os moradores mais antigos veneram as águas daquela lagoa, pois a conhecem bem.
O garoto ouviu atentamente as palavras da mãe, mas ora, como poderia uma água formada pelo sangue das pessoas que já morreram ser tão importante e vital para uma cidade? Como poderia aquela água de sangue ser venerada por muitos? Algo não fazia sentido e um sentimento forte bateu no peito do garoto: ele precisava explorar a lagoa.
O jovem explorador esperou o anoitecer e, munido de sua lanterna, empreendeu uma expedição rumo à lagoa. Dessa vez, não querendo se encontrar com a árvore, que no fundo até parecia um pouco assustadora, pegou o caminho mais longo, pelo outro lado da cachoeira.

Logo que chegou na clareira da lagoa, apontou sua lanterna para as águas, mas a confusão assaltou seus pensamentos: Onde estava a vermelhidão das águas? Antes que pudesse tomar qualquer atitude, ouviu uma doce voz vindo da lagoa.
- Olá! Seja bem vindo!
- Você é má? – indagou Aurélio.
- Má? Não sei. Penso que não. Como assim?
- Onde está a vermelhidão de suas águas, fruto do sangue das pessoas que já morreram aqui?
- Ah... Minhas águas não são vermelhas, acontece que as flores da árvore as tornam de aparência avermelhada pelo reflexo que fazem. Não há sangue... Essa história a árvore sempre conta para todos que encontra. Ela não quer que as pessoas se aproximem de mim.
- Mas por quê? – indagou o garoto, curioso.
- A árvore queria que eu fosse apenas dela e não levasse água a mais ninguém. Como nutri suas flores, ela queria que toda minha água fosse direcionada para lá. Como não pude fazer isso e tive de reafirmar minha posição de alimento do mundo, ela impede as pessoas de quem consegue se aproximar de virem até aqui com esse tipo de histórias.
- Mas você não dá água para a árvore?
- Claro que sim, meu garoto... De onde acha que vieram aquelas exuberantes flores? Ocorre que eu pedi para que a árvore firmasse suas raízes e buscasse nutrientes no solo, mas de nada adiantou, ela queria se apoderar de meus nutrientes com raízes superficiais. Eu avisei que com o tempo minhas águas correriam por outros lugares e debandariam de suas redondezas, mas de nada adiantou. Agora que suas raízes não conseguem os nutrientes da terra e minhas águas não estão muito próximas, ela começou a apodrecer. Mesmo assim, faz questão de que suas flores continuem exuberantes, enquanto o resto é corroído.
- O que há de errado com as flores? – perguntou o garoto.
- É a natureza da vida: o que era necessário é que ela criasse suporte para se auto alimentar, mas ela preferiu focar em se alimentar exclusivamente de mim, mesmo sob meus avisos. Hoje ela apodrece e parte desse processo é que ela preferiu focar em formar maravilhosas flores, atraindo a todos, do que direcionar seus nutrientes para suas raízes, de forma que pudesse ficar cada vez mais forte, para, então, dar flores. Para ela, sua imagem precisa ser de exuberantes flores, enquanto a minha de um sangrento rio. E assim será, nas mentes das pessoas que ela alcançar, mas nada disso mudará o que eu realmente sou: alimento.
- Preciso contar aos meus amigos! – exclamou Aurélio.
- O que você precisa agora é voltar para casa e descansar, já está tarde, beba um pouco de água e vá.
O garoto se aproximou da lagoa, abaixou-se e bebeu bons goles d’água com as mãos. Instantaneamente se sentiu abençoado e querido, na presença da fonte da vida. Pensou na pobre árvore, que quis ter a fonte e se apoderar dela. Pensou em tudo o que ocorreu e no que lhe foi dito.
- Não devo contar às pessoas, certo?
- Sim! - exclamou a lagoa. O tempo mostrará, infelizmente, a verdadeira face da árvore, já que não por muito tempo ela conseguirá manter suas flores avermelhadas, uma vez que prefere investir nas flores do que nas raízes. São processos, e o correto é que as raízes venham antes das flores, mas quando tentamos florir sem raízes firmadas, é um falso e breve florescimento. Minhas águas cada vez mais debandam para cá, já que meu curso está sendo naturalmente desviado. As facilidades encontradas se afastarão e com o tempo ela não mais conseguirá enganar a ninguém. A mim, resta apenas seguir o meu caminho, tentando ao máximo alimentar quem passar por mim. Agora vá.
- Sim, sim... Muito obrigado, me ensinou muito esta noite.
Assim o garoto, reflexivo, encheu uma pequena garrafa e se retirou da lagoa. Lembrou-se da árvore e lhe ocorreu que ela não era má, apenas não tinha encontrado o que realmente era importante. Passou por ela, jogou água na terra à sua volta e lhe disse:
- Trouxe alimento... Conheci a lagoa e vi que ela não é má. Está tudo bem, espero que fique em paz e que cuide de suas raízes.
A árvore manteve-se muda. O garoto beijou seu caule e foi, pensativo, em direção à sua casa.
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Aqueles que ficaram apenas com o título, com a aparência, mas não foram a fundo no texto, permanecem cegos quanto à realidade do conto.
Que espetáculo de texto em? Tapa na cara pra quem vive aparentando ser o que não é. Ofusca o brilho dos outros pra não mostrar as trevas em que vive internamente.
Este texto faz uma analogia fiel de pessoas que se apoderam de outras e não aceitam dividi-la. Egoísmo usurpador e destrutivo para todos.